Para o Francisco Pessoa

Francisco, minhas filhas odeiam quando conto coisas de quando eram pequenas. Pois bem, vais ouvir uma de quando tu eras pequeno. Paciência, ainda bem que estou longe e não preciso ver o olhar fulminante de reprovação que me é comum nessas ocasiões... :)
Tu tens a honra de assinar o diploma de "primeira troca de fralda" desta prima do Brasil.
Em 1989 fui estudar na França e, de passagem, passei uns dias em Portugal. Durante o tempo em Lisboa, fiquei em casa dos teus pais, dormi no teu quarto, e fui muito bem recebida. Foram uns dias muito bons.
Uma recordação bonita dessa época é a passagem de ano (1989-90). Teus pais foram passar o ano a casa de uns amigos e me convidaram, mas eu não quis ir, preferi ficar em casa. Afinal, não conhecia ninguém. E já estava com saudades de casa, ansiosa pelo ano que ia passar longe de todos, um pouco triste. Queria ficar perto do telefone, falar com o Brasil num lugar tranquilo. À meia-noite, quando imaginei que fosse ficar mais triste, aconteceu uma coisa linda. De casa, escutava-se ao longe os navios no Tejo, a tocarem, não sei como se chama - buzinas, alarmes, sirenes? Muitos, muitos navios e barcos, bem ao longe, parecia que choravam a anunciar o ano novo. Como se estivessem tristes como eu, e ainda assim comemoravam o ano. É inesquecível.
Inesquecível isso dos navios, e a primeira fralda da minha vida.
A gente se entretinha, tu e eu. Eu te contava histórias, livrinhos que levei do Brasil para ti e para teus primos, tu ficavas quieto a ouvir. Não sei se por causa da minha habilidade de contar as histórias, ou pelos montes de chocolates brasileiros que eu te dava sem que a tua mãe visse (ai, essas confissões!). Mas demos-nos bem. Um dia, eu fiquei a tomar conta de ti. Não sei se tua mãe foi ao supermercado, ao médico (estava grávida), alguma coisa assim. Tu dormias quietinho, e acordaste. Quando escutei que acordaste, fui olhar. Lá estavas tu, no berço, de pernas bem abertas, querias me dizer alguma coisa que não sabias em palavras. Mas o cheiro falou por ti. Eu entendi.
E bom, quando não há remédio, remediado está. Eu, que jamais havia trocado uma fralda na vida, mas afinal tinha visto tua mãe fazê-lo, meti-me a cuidar de ti. Eu sabia onde estavam as fraldas, os lencinhos, conhecia a teoria. E não ficou mal. Olha que tu tinhas caprichado, não foi assim uma coisa normalzinha, trivial. Vai ver foram os chocolates brasileiros... E também, quando se presenteia alguém com a primeira fralda, fazemo-lo com gosto!!! Quando a tua mãe voltou estavamos os dois muito felizes, tu aliviado do peso extra, e eu orgulhosa da minha realização.
Uns anos mais tarde, troquei 5.607.367.284 fraldas das minhas três filhas. Mas a tua foi a primeira!
Desculpa por estas histórias de crianças, mas o blog é para a gente relembrar a história da família, não é? :)
Beijinhos, parabéns pelo aniversário, Xaninha