Flores no Outono

Minhas flores surgiram assim, no outono, improváveis e belas. Como tudo num país surpreendente, de contrastes e paradoxos, algumas plantas florescem em pleno outono, quando tudo se prepara para hibernar, para dormir. É o mesmo país das diferenças abissais, o país do futuro e do atraso, do analfabetismo (funcional) colossal e da tecnologia dos biocombustíveis. Das gafes inesperadas, mas já previsíveis, de um presidente improvável. O país que está na moda para o mundo, paixão de seus nativos, desgraça e desalento de seus miseráveis, desesperança dos atingidos pela violência incontrolável. Pátria de exploração de crianças e de (mais) um milagre econômico, no meio de um mundo em caos financeiro.
Flores no outono. Pois bem, quando tudo parece apenas cumprir mais um ciclo, surge ainda o inesperado. Resta-nos pensar nas coisas belas que ainda aparecem de vez em quando. Esperança? Não: presente, dádiva. Réstia de beleza e renovação. Continuidade da vida.
Filipa Cortez Salviano